Uma canção para a noite do exilado
É preciso mais:
é absolutamente necessária
alguma experiência de saudade
acrescentada à possível sensação
de uma planta arrancada pelo caule
E não seria demais
a lembrança dos seios que perdemos
da mãe e das amadas para o tempo
Para entender-se o exílio
há que um dia ter-se dormido
sob um lençol de céu
que não é nosso
e sobre uma terra-
colchão que não é ventre
Ave submarina
um ser fora do cosmos
árvore no ar
barco no chão
ou feto na proveta
assim morrem na vida
os exilados.
Muitos há suspirando pelo fim
– tarifa que lhes cobram para a volta –
outros contam o tempo em grãos de angústia
chorados na ampulheta da saudade
Mas sabemos:
estão todos acordados
enquanto nós
os exilados que ficamos
fazemos para eles
a cama do regresso.