A TRANSPARÊNCIA DA ESPERA
esse monstro diáfano
sobrevoando as águas
nesse mar acabrunhado e roto
e de cabelos brancos,
há milênios o esperamos
em vão e esperançosamente.
virá talvez cheio de exóticos e tóxicos perfumes
vestir de alegria bêbada
nossa impaciência envelhecida.
virá talvez com milhares de balões coloridos
e infindáveis bolhas de sabão
a sobrevoá-lo,
e pierrôs delicados e pálidos
tocando flautas doces
mimando graças leves,
seu único olho, verde no vértice da fronte,
virá o barco pleno de mãos cheias
das essencialidades dos tesouros
e renascerão os mortos dos caminhos do exílio
os mortos exilados sem caminho
renascerão os exílios dos já mortos
e habitaremos esse espaço largo
feito de irrealidades transparentes
redimidos da espera
e do vivido.
setembro, 1977