EXILUSO
1. Obrigado
Portugal,
para mim
porto.
Onde arriei mochilas
enchi o cantil de afeto
até restabelecer a ponte
do reencontro.
Cais
mar
barco riscando mapas
soldados cultivando cravos
foice ceifando sardinhas
rede pescando trigo
martelo moldando vinho
sorriso semeando terras recuperadas
punhos voando
no espaço das 25 madrugadas.
Portugal
disperso no mundo
reconcentrado
abrigo
assumindo o trabalho
renascendo nas sementes
das flores maduras.
2. Cuidado!
Há uma bomba relógio ligada
nos dedos dos braços estendidos,
as tenazes do FMI
acionam velhas baionetas da OTAN
enquanto aves carnívoras alvoroçadas
escapam pelas fendas
abertas na unidade.
E ameaçam re-pousar nos músculos
libertados.
3. Aqui reabasteci os pulmões
ganhei alguns calos
conheci o fermento fértil do suor
reinventando esperanças.
Amanhã parto
e segues comigo,
porto, Portugal.
Vou sempre aliado
dessas mãos rudes
desajeitadas
decididas
amparando os novos frutos
que saltam da árvore do futuro.
(1976)