Exílio 2
para F. Paulo Mendes
Amemo-nos neste instante, minha alma: Há
coisas ente nós que não sabemos, ou
ainda não são
são álibis
Como esta asa oca
este poema louco
feito de miasmas e ânsias
indecoláveis
indecorosos pássaros da linguagem
desovando ecos, seus resíduos
no indizer da praia
E pela praia
entre nós e os sóis que há lá fora, há
o mar lacrado a jaula e meus pentelhos
afogados neste espelho
neste rosto
gasto
neste olho
cego de mim meu eu meu céu ágrafo-vazio
(Ou céu já há, e é, e não conheço
no interpelar da lua
tutelar, a teia
onde estremeço, extremo-me
— fulgor de Circe entre os joelhos?)
Amemo-nos, nome sobre nome num só nome
aliciando as nossas águas, hélice e ânimo
Amemo-nos neste instante, minha alma almeja-me
que te chamo e ardo
Agora!
Oh verbo! Estiolado esperma, a pátria é tarde
E a noite
anoitecendo cria um verme
esconso e esconde-o
amoita-o
no chão dos nomes, minha alma — exílio e lama
Comentário do pesquisador
A temática do Exílio, colocada desde o título, liga o poema a elemento importante dos Anos de Chumbo. Ao longo das linhas, ocorrem mais questões atinentes ao contexto histórico, como os álibis e a pátria. Revisitando a sensualidade, o erotismo, tão caros a Max Martins, o texto recoloca questões difíceis da época, mesclando a memória política e a afetiva.