Com desesperada raiva
Mudas minhas mãos
Meus pés dormem inquietos
Gélido fogo sobe em minhas pernas
Consumindo meus joelhos
Procuro pensar nos pássaros
Acuso-os de terem deixado de cantar
É fim de agosto
O verão na Suécia foi miserável
O fogo continua sua escalada
É como se eu afundasse
Num desses lagos gélidos da Lapônia
Recordo Veríssimo
Gato preto em campo de neve
Meus joelhos não existem mais
Joelhos surdos insensíveis
Golpeio meus reflexos
A culpa é minha
Ninguém espera quinze anos
Seria impossível parar
Esse passar de carros sobre mim?
Carros de combate
Carros de passeio
Barcos de guerra
Barcos à vela
Uma vela se acende
Para quem?
Para mim?
Quem morre em Rio Grande?
Quem morre em Lund?
E esse malito gelo que sobe
Eu subi por muitas escadas da vida
Senti muitas mortes
Chorei muitas prisões
AQUI ESTOU MALDITOS!
PRETENDO ESCULTURAR
EM GRANITO IMPERECÍVEL
MINHA RAIVA
MEU GRITO
PARA QUE TODO AQUELE QUE PASSAR
POR ESTAS RUAS DO EXÍLIO
POSSA LER SOBRE O CRIME
COMETIDO EM NOSSAS ALMAS