Se neste tempo de nossa triste existência
fosse ouvida a voz dos sobreviventes,
certamente lanternas se acenderiam
iluminando o rosto de Ana Rosa.
Por enquanto são estéreis tentativas:
toda promessa se resume na esperança.
Aqui no cárcere, fios e ferros
perfuram doloridos ferimentos.
Se gravamos mãos no manuscrito
é procurando pintar pista para segurança do passo.
Precisamos remover a cinza da nossa frente.
O macabro anfiteatro queremos riscar
das lâminas mais finas da condição humana.
Queremos viver com janelas abertas
sobre largas estradas da alegria comum.
Queremos nosso gesto fora das fechaduras,
por toda parte, além das particularidades.
Perdemos temporariamente a expressão precisa.
Nada resta hoje das varandas e paisagens.
Queremos reencontrar os braços na caminhada,
Ara Rosa viva ou morta, Ana Rosa irmã.
Ninguém sabe quantos "desaparecidos"...
Trevas atravessam as vistas dos sobreviventes.
Mas Ana Rosa estará na luz clara da manhã,
na rubra rosa da primavera eterna.
Comentário do pesquisador
Poema também localizado na Pasta 042 do CBA-AEL, pasta Produção dos presos políticos.