VIDA VIVIDA
a) Jogo de contrários
o pão
o pau
o arroz
o arrocho
a fala
o cala
a mão
o não
b) tempo
dia a dia
adiado
na boca do fuzil
dialogado
mês a mês
sob a usura
desmesurada
ano a ano
desenganado
c) carências
sem saldo
nem soldo
sem vaga
nem paga
sem voto
nem veto
sem voz
nem vez
sem ter
nem ser
d) desacato
vida sem sucesso
vida sem sossego
vida de morcego
vida com nó cego
preciso é desatar
quem desata a vida
desacata a morte
desfere a dor-ferida
contra quem o corte
preciso é ser-se forte
Comentário do pesquisador
De acordo com a apresentação da obra, assinada por um grupo de familiares dos mortos do Araguaia: "Estas poesias foram feitas provavelmente pelos guerrilheiros do Araguaia. Sua primeira publicação parcial se deu em 1979 no Jornal "Resistência", do Pará. [...] Quem as lê percebe que, de fato, foram feitas por pessoas muito íntimas da guerrilha. O prefácio original - "Cantar é preciso", escrito todo no plural, contradiz a assinatura de um único autor no final do mesmo. Libério de Campos pode ser, inclusive, uma alusão dos autores aos objetivos de sua luta - "Liberdade-Camponeses".