TEMPO DE CARINHO
à Regina
1.
O tempo em carinhos
já é insuficiente
para impregnar
perfume.
À noite
minhas mãos horrivelmente
inodoras.
2.
O tempo de carinho
novamente resulta inútil.
Não há total
na soma da espera
e esperança.
3.
Continuo
vivo-sem-amor.
Mas recusarei sempre
o mutilado sentimento.
Não aceitarei máquinas
nem mulher-fábrica,
propriedade privada.
Não aceito
desrespeito
ao amor golpeado.
Eu o socorrerei
até o encontro
de sua existência no momento.
E enquanto só,
meu lençol é companheiro
quando há ausência
e ânsia de mãos e carinhos.
4.
Há anos
não me permitem
uma conversa franca.
Permanece a cortina
sobre as personalidades
e a isca no anzol
como se propriedade
ou animal fôssemos.
Continua o cordão intacto,
a nova era
com recuos
nunca será inaugurada!
5.
E ainda vejo esse olhar
toda vez que tomo as chaves
e a porta é forçada.
Não fossem
as fechaduras emperradas
por séculos de preconceitos,
o tabu reverenciado,
as chaves retorcidas,
seria você o presente...
6.
Ah, irmãos desconhecidos,
não permitamos desrespeito
ao amor agredido...
não permitamos separação de amantes,
não permitamos mais...
(1966)