Reflexão Sobre Nosso Futuro e dos Tempos
Já amei várias mulheres
e com elas corri da polícia
me entoquei em sobrelojas decadentes
mictórios de bares, velhos sobrados
onde bradei meus slogans
debaixo de marquises cinzentas
próximo a notórios líderes procurados
durante cargas de cavalaria
e chuva de papel picado.
Porém, quando começamos a namorar
eu estava numa masmorra
e ainda não havia manifestação de massa.
Antes de qualquer ativismo
e vínculo ideológico
nos prendia o velho tesão
de homem e mulher.
Hoje porém, nessa passeata
eu percebi como é bonito e inquietante
pensar a mãe que você é
do meu próprio filho
lá, toda agitada, nervosa
no meio daquele barato todo
enquanto eu fico aqui
preocupado feito o diabo
com a sua pneumonia.
Algo me diz:
o pulsar das novas eras
vai ter esse sacolejo
ritmo esquisito
a sopinha do filhote
deixado em casa
e a palavra de ordem
gritada na desordem
das ruas
o sorriso dele
e a pauleira do comício
a tarja preta pelos mortos
e a pulseira colorida pela vida.
E quem começou pelo fim
terminará achando seu início.