OS DESAPARECIDOS
PARA O POETA LUIZ PAIVA DE CASTRO
O operário saiu de sua casa pela madrugada.
Não sabia para onde ir, não tinha onde ir.
Passaram-se nove dias e nove noites.
Regressou à casa e não encontrou sua mulher.
Onde estaria a mulher e os filhos? se indagou
Foi aos vizinhos; nenhuma notícia. Foi à porta
de sua fábrica, onde meses atrás trabalhava.
Nenhuma notícia por parte dos antigos colegas.
Perambulou por ruas conhecidas, por casebres
de amigos, ninguém lhe dava notícia nenhuma.
Nesse meio tempo, as chuvas de setembro vieram,
não amenas, mas fortes. Encontrou amigos, desem-
pregados, esteve pelas igrejas, pelos albergues,
pela estrada de ferro e terrenos baldios,
pelas pontes conhecidas, pelas praças indagava,
sem notícia da companheira e dos filhos.
Passaram-se dois anos. O operário foi preso.
Esteve preso vários dias. Depois em liberdade;
mendigou. Por cúmulo de falta de sorte,
novamente preso. Esteve por dois anos e meio
na penitenciária. Solto e novamente preso.
Nenhuma notícia. Nada, nada.
E aconteceu um fato; houve um levante no presídio.
Seis mortos, entre eles, o operário e sua história.