O torturado e seu torturador

Affonso Romano de Sant'Anna

O TORTURADO E SEU

TORTURADOR

 

Apanhado em meio à noite,

jogado ao chão da cela,

o corpo nu conhece

a primeira humilhação.

Outras virão: o soco,

o choque, a ameaça,

o urro na escuridão.

 

— Quantos volts

suporta um corpo

  — em coação,

até que dele escorra o fel

da delação?

 

— O que procura o tortura/dor

nas pedras do rim alheio

como vil minera/dor?

— O que ama esse ama/dor

da morte?

esse morcego suga/dor

sob os porões da corte?

esse joga/dor

do jogo bruto

 e cria/dor do luto?

 

O tortura/dor se sente, e acaso o é,

um trabalha/dor diferente:

seu trabalho é destruir

o sonha/dor insistente,

como o médico que resolvesse

matar de dor

  — o cliente.

 

Sob a tortura

o que há de melhor no homem

jamais se manifesta. Quando muito

podeis catar no chão

o pouco que dele resta.

Mas soltai-o em festa, ao sol,

e vereis que a verdade

de seus gestos se irradia.

Livre,

  vestindo a pele do dia,

o torturado caminha

com seu corpo tatuado

de violência e poesia.

 

Mas ele não marcha só.

Apenas segue na frente

na direção da utopia.

 

 

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— Colofão

Coordenação

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Nelson Martinelli Filho (IFES/UFES/CNPq)

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Valéria Goldner Anchesqui

Bolsistas de pós-doutorado (CNPq)

Camila Hespanhol Peruchi

Rafael Fava Belúzio

Pesquisadores/as vinculados/as

Abílio Pacheco de Souza (UNIFESSPA)

Ana Clara Magalhães (UnB)

Cleidson Frisso Braz (Doutorando UFES)

Cristiano Augusto da Silva (UESC)

Diana Junkes (UFSCar)

Fabíola Padilha (UFES)

Francielle Villaça (Mestranda UFES)

Henrique Marques Samyn (UERJ)

Marcelo Paiva de Souza (UFPR/CNPq)

Mariane Tavares (Pós-doutoranda UFES)

Patrícia Marcondes de Barros (UEL)

Susana Souto Silva (UFAL)

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