UM CAMPÔNIO
Teu cutelo canaviais abateu
ao pão de todo dia buscando
açoitado na fome e entre famintos
companheiros de amargorosas vidas
sob sois ardentes e coçantes pelos,
entristecidos à sina feroz
da filharada desnutrida, sambuda,
verminada fornindo cemitérios
no infanticídio coletivo
por outrem perpetrado, e
de filhas desviadas, ainda
impúberes desvirginadas
provendo aos bordéis, carne nova.
Na existência desviada,
teu medo e submissão
tua dor, tua mágoa
tua insatisfação, tua ira
e a revolta e a consciência
na missão da classe estampada.
E o cutelo que amargamente
canaviais derrubava, abate
ideias velhas e submissão
no abafamento doce dos canaviais
no frio das chuvas e ventos noturnos
na lama que nos caminhos o retém
de engenho em engenho, célebre
como indica teu nome, Ventania
aos sacrifícios a saciação íntima
do espargir centelhas
retirando interrogações
esclarecendo revoltas
afirmando exigências
ajuntando parentes e companheiros
em grupos, rede extensa
lançando sementes-respostas
de insatisfações encaminhando
ao ajuste final.
À um combatente revolucionário,
camponês assassinado sob tortu-
ras, o camarada Manuel Aleixo
"Ventania", no segundo aniversá-
rio de sua morte.
Itamaracárcere, 04/09/75. Emil