LEMBRANÇAS 1968/70
Lembrar-se passou a ser a mais profunda rebelião da alma
e seu desespero, pois, desde outubro de sol embalsamado, não temos procurado
uma nitidez mística nas coisas
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nem percebido acordes a partir do distante, do vago que
parecia nos chamar
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desde outubro
várias cidades foram destruídas, campos atravessados por ratazanas e um ven-
to sem nome nem futuro — cata-ventos já antigos enferrujam e caem, aviões
devoram-se em um instante de fumaça, pessoas de rostos dilacerados tomam
conta dos viadutos, navios-fantasma ocupam os portos. Desafiando qualquer
possibilidade de grandeza, a presença do tempo, cada vez mais insistente:
mucosas trespassadas, pássaros dilacerados, sangue respingando nas paredes,
as plantas nos parques com raízes à mostra.
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Em outubro, porém, as paredes se juntavam em uma única circunvolução
poética, jaulas de cristal não tentavam converter os criminosos
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