GÊMEOS
Irmão, que não conheço.
O ferido de guerra, a esta hora.
Em algum confim do mundo.
Gostaria de lhe doar meu sangue
numa rosa
de vidro.
Todos os que estão morrendo à mesma
hora
no globo
diurno
noturno
soturno
por diverso que seja o lugar onde
cada um deles resida —
irmãos extremos, entre si, ir-
mãos gêmeos.
Alheios às diferenças de hora
e espaço.
Heterônimos
por secreta coincidência, ou desígnio.
A morte,
algo de obrigatoriamente fraternal,
afinal.
Que os situa sob um único meridiano.
Sem país
sem idade
sem data.
Depois, por graça do zodíaco, mudados
em constelação.
Como os Dióscuros, sobre cujas cabeças,
à hora da tempestade,
aparece o santelmo.