CASA DE HELOISA

Claudio Willer

CASA DE HELOISA

 

reencontro-me ao despertar

 sei que estou de volta

noutro lugar

nesta casa

de paredões altos e janelas antigas

  neste quarto

que traz sensações de profundidade e duração

      a luz e o ar

   vêm de cima

  sombras constroem a claridade

sensação de poço tropical

    frescor de um raio de sol na cara

    filtrado por folhas de palmeira e buganvília

ouço passos abafados

  como todos os passos adolescentes

vozes distantes

 brotam da parede ao lado

 lá no fundo

alguém ferve um tacho de qualquer coisa

em um ritual de sandálias

esta casa é um corredor

    com a simetria da respiração

   traço de união

  entre um renque de palmeiras solidárias

   e um quintal luminoso como uma vagina calcárea

   clareira dentro do tempo —

por aqui passou a História

    em uma marcha mais pausada

foi deixando objetos

  como se respeitasse os moradores

depositando as marcas e traços de seu refluxo:

               estes móveis antigos e quadros modernos

   os livros e os originais de textos

 molduras    lustres   opalinas   papéis

fotografias de pessoas e lugares

 harmoniosamente dispostos

  por estarem aí

 e por isso mesmo serem

 convergência de épocas

construindo novos espaços

 dilatação do tempo

 

portão de iniciações

 caramanchão de cumplicidades

— aqui os fantasmas são de outra espécie

reconhecem-me familiarmente —

    aqui tudo recomeça

   outro tempo dentro do tempo

RUA FARO 21 JARDIM BOTÂNICO

casa de Heloisa Buarque de Hollanda

  casa

 que só poderia ser de Heloisa

  casa de gente que sabe morar

  morada de gente que sabe viver

 voltemos a conversar

  sobre tudo que emana daqui

  falemos de leituras  livros  apresentações  festas

esforços de gente

para construir seu tempo

   pois aqui

são outras as fitas gravadas  documentos guardados  depoimentos colhidos

testemunhos registrados

tudo o que parte de um centro

 mais calmo

outras vozes                            outras palavras

rara sensação de estar em meu país

desta calma

nascerão terremotos

destes tempos de transparência

por enquanto armazenados em casa de Heloisa

(sou aquele que viaja para continuar no mesmo lugar   perco-me para que haja

reencontros  distancio-me para ver o que está próximo: praia  floresta da Gávea

    ruas e jardins   gentes do Rio de Janeiro   parto para permanecer

neste tempo       nesta casa  aqui              onde sempre estive)

 

 

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— Colofão

Coordenação

Marcelo Ferraz (UFG/CNPq)

Nelson Martinelli Filho (IFES/UFES/CNPq)

Wilberth Salgueiro (UFES/CNPq)

Bolsistas de apoio técnico (FAPES)

Juliana Celestino

Valéria Goldner Anchesqui

Bolsistas de pós-doutorado (CNPq)

Camila Hespanhol Peruchi

Rafael Fava Belúzio

Pesquisadores/as vinculados/as

Abílio Pacheco de Souza (UNIFESSPA)

Ana Clara Magalhães (UnB)

Cleidson Frisso Braz (Doutorando UFES)

Cristiano Augusto da Silva (UESC)

Diana Junkes (UFSCar)

Fabíola Padilha (UFES)

Francielle Villaça (Mestranda UFES)

Henrique Marques Samyn (UERJ)

Marcelo Paiva de Souza (UFPR/CNPq)

Mariane Tavares (Pós-doutoranda UFES)

Patrícia Marcondes de Barros (UEL)

Susana Souto Silva (UFAL)

Weverson Dadalto (IFES)

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— Financiamento e realização

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