Canção para os que lutam nas trevas

Maciel de Aguiar

CANÇÃO PARA OS QUE LUTAM NAS TREVAS

 


Meninos que combatem nas trevas, 

enfrentando a fúria dos tiranos, 

a força do poder blindado, 

a Polícia Federal nas ruas, 

o terror oficial nos esconsos 

e a impunidade de hoje, 

com uma bandeira rota 

desfraldada pela vida, 

canto-lhes esta canção, 

que o sopro das noites 

possa levar aos vencidos 

a voz da solidariedade. 

— Lutar,
  lutar,
  lutar!…
Mesmo que com as mãos atadas,
mesmo que os cartazes
espalhem seus rostos,

mesmo que a repressão 

assassine seus sonhos,
mesmo que os carrascos 

arranquem suas vidas, 

mesmo que as mãos 

que trazem a barbárie 

lhes sufoquem nas trevas 

é preciso lutar.
Pois, acima da ameaça, 

acima dos métodos,
da injustiça,
do grito,
da dor,
está a Liberdade,
direito supremo do homem, 

dizendo o que é preciso. 

É preciso lutar
apesar do regime; 

é preciso lutar
a despeito dos que morrem;
é preciso lutar
diante da intimidação; 

é preciso lutar…
Que o sangue que lava as celas 

seja recomposto nas veias; 

que o plasma que alimenta os ratos 

seja resgatado aos corações; 

que os corpos debilitados 

sejam recolhidos dos becos; 

que os métodos do suplício 

sejam extirpados dos homens; 

que os condenados de hoje 

nunca mais deixem marcas 

e às praças onde tombaram os heróis 

nunca mais voltem os assassinos. 

Oh! Meninos que combatem 

na Pátria esvaída em sangue, 

enfrentando as balas 

com o peito arfante, 

que o vento da noite, 

que entra pela janela, 

fazendo-nos acreditar 

que ainda estamos vivos, 

leve para a clandestinidade 

dos nossos vinte anos
esta canção inconfidente:
— Lutar,
  lutar,
  mil vezes lutar!…
Oh! Meninos que combatem 

nas horas do infortúnio, 

cantem a canção da esperança: 

— Brava gente, brasileira! 

— Brava gente, brasileira!

— Brava gente, brasileira!


                   Rio de Janeiro, 2.3.72

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