CADÊ GARRINCHA
Cadê Garrincha o menino torto
dos passarinhos.
Chamava os beques com alpiste
e eles vinham comer na mão.
Cadê Garrincha alegria
num país triste.
Cadê Garrincha o menino torto
devolvia em sorriso
a botinada.
O gol era gaiola que ele abria
pra soltar milhões de passarinhos.
Afagava a nuca do goleiro e dizia
Não foi nada, negão, não foi nada.
Cadê Garrincha o menino torto.
Beque era amigo. Drible era só
brincadeira. Esporte era uma festa num brejal
e a missão dele era soltar os passarinhos de Pau Grande
no Brasil todo para os meninos tortos
aprenderem a vida e a invenção
contra os urubus de um país triste
e de um futebol morto.
Cadê Garrincha o menino torto
não sabia o ano em que assinou contrato
não tinha nem passado no psicotécnico
era aleijado na opinião dos médicos
era um bobo na opinião dos técnicos
um filho da puta na opinião dos beques
um menino com dois bodoques num gramado.
Cadê Garrincha o menino torto
contra os urubus de um país triste
e de um futebol morto.