Aquarela do Brasil
Honório Nardin
esse teu quadro
me faz um mal
ao coração
que nem te conto.
Ou conto, sim:
— Na moldura, entardece
(há quanto tempo o sol não amanhece?)
na praça o dia morre
uma menina corre
rodando um aro
na areia do jardim.
Que mal me faz agora
Honório
o teu poema em cores
que foi sempre
paraíso de amostra na parede.
Porque essa praça
de teu quadro, Honório
me lembra outras
longe, neste mundo
onde, na hora morna
em que a luz reflui,
brincam crianças que não têm país.
Pequeninos brasileiros exilados
pelas praças do mundo em debandada
que existem
correm
brincam
— como as nossas –
mas são filhos e netos de exilados
não conhecem o céu que lhes pertence
nem as praças e a terra que são suas.