A LORCA
a romã da morte madura
no vácuo de estrela e água
a romã da morte amargura
no prado da madrugada
granada
fonte de espinhos
granada
intranscendente vinho
granada
amargor e soco
púlpitos de vento e cristos amassados
na prata da madrugada
romã da morte madura
granada
no azar de sombra e caveira
o vazio vômito encarna
arames de fogo e nada
granada
romã em sangue navegada
interna romã mutilada
carrasco na arena gelada
granada
duros líquidos de amanhecer
horizontes descarnados
sol sem luz
torta manhã
nos olhos
(seca romã)
de federico parado
de federico dormido
de federico cuspido
de federico e seu nada
granada
lados feridos
granada
assassina estrada
de cães de lua e labirinto
corpos lançados nos rios
corpos salgados nos frios
fascista florada e martírio
granada
nenhuma estrada
(pois além de federico
a poesia e a morte
bailam máscaras e acasos
no despenhadeiro de traços
e verbos de federico
a infinita manhã
naquele instante esgotado)
granada
terrível romã
madurando a madrugada