A GREGÓRIO BEZERRA
As borboletas do sonho
esvoaçam em torno
do amor-leão,
pelo povo:
herói sem retórica,
lâmina de cabo florido,
encurralando os indecisos
que sujaram
a terra;
e eles não ousam,
sem vergonha, ler
a denúncia humilde
(e terrível)
que foi tua vida,
ao povo devolvida.
Comentário do pesquisador
Gregório Lourenço Bezerra nasceu na região agreste do estado de Pernambuco e foi um destacado militante comunista brasileiro. Em 1935, liderou, no Recife, o levante militar promovido pela Aliança Nacional Libertadora (ANL), a "Intentona Comunista". Na ocasião, foi condenado a 28 anos de prisão pela morte de dois tenentes ocorridas na tentativa de roubar o armamento do CPOR/Recife. Foi anistiado com o fim do Estado Novo. Elegeu-se deputado federal em 1946, por Pernambuco, pelo Partido Comunista Brasileiro (PCB). Seu mandato, assim como o de outros dirigentes comunistas, foi cassado em 1948, quando precisou viver nove anos na clandestinidade. Nesse período, organizou núcleos sindicais no Paraná e em Goiás. Foi preso imediatamente após o golpe de 1964, quando tentava organizar a resistência armada dos camponeses ao golpe em apoio ao governo federal de João Goulart e estadual de Miguel Arraes de Alencar. Após a prisão, foi transferido para o Recife, onde foi arrastado pelas ruas do bairro de Casa Forte enquanto o tenente-coronel do Exército Brasileiro, Darcy Villocq Vianna, incitava a população a linchá-lo. Antes disso, teve os pés imersos em solução de bateria de carro e foi obrigado a andar sobre britas. Condenado a dezenove anos de reclusão, teve seus direitos políticos cassados por força do Ato Institucional nº 1. Conforme relata Flávio Tavares em seu livro “Memórias do Esquecimento”, Gregório Bezerra foi libertado, em 1969, juntamente com outros quatorze presos políticos, em troca da devolução do embaixador dos Estados Unidos, Charles Burke Elbrick, sequestrado por um grupo de oposição armada. Viveu no México e na então União Soviética e, com a promulgação da anistia, voltou ao Brasil em 1979.