XVII
Na delegacia há sempre
umas seis mulheres
sentadas em velhas
e gordurentas cadeiras;
já choraram tanto
que não devem mais nada
ao seu sofrimento;
e o Comissário Chefe,
cioso do poder,
às vezes peida
depois do café
para (segundo confessou,
a um amigo bem próximo)
alegrar o ambiente;
as notícias dos presos
às vezes chegam,
às vezes não chegam,
pois se ali ninguém
tem pressa de dá-las,
as mulheres sentadas
e tristes não têm
lágrimas com força
para arrancá-las.
Comentário do pesquisador
Optou-se por registrar esse poema no Memorial Poético dos Anos de Chumbo devido à ênfase com a qual tematiza a violência institucional e os abusos no cárcere. Embora o texto se refira também a uma problemática contemporânea, a violência policial do presente pode ser vista como fruto da manutenção de traços autoritários oriundos do regime.