XVI
Senhor, este poema sabe
o número certo de mortos:
acaba de ler os jornais
do dia, e não está contente.
Olha teus anjos, mas não perde
de vista as patrulhas que rondam
as alamedas do teu reino,
como disse, desencantado.
Entra furioso no templo
para pedir-te explicações,
e tocar os sinos mais altos
e provocar tua inocência.
Volta sem flores do mercado
(para não falar noutra coisa
que magoa a forma discreta
de acusar o tempo que passa).
Segue furtivo e camuflado
como um lagarto, pelas folhas:
Senhor, este poema sabe
de tudo, e não pode dizer.