Viver com medo

Eduardo Alves da Costa

VIVER COM MEDO

 

 

 

 

Viver com medo é pior

do que ir para o degredo.

Pois de tanto moderar o diapasão

a alma acaba por desafinar a canção.

E alma que se preze não cabe

em moldes de prudência;

porque é de sua natureza,

volátil e eterna, contrariar

as normas da dureza.

Por isso mesmo se diz

que pedra não tem alma;

e, por extensão, o ditador

— que dita as dores ao redor —,

por ser um ente pétreo, insensível,

em vez de alma tem um fusível

regulador. Destarte, não há risco

de que se queime o sistema

por uma falha de amor,

Os que, alados, se sentem

morrer sufocados, por extravasamento

anímico, pertencem a outra natureza.

Não lhes importa que à mesa

haja abundância de vitualhas;

nem querem ver o saldo bancário

subir os Himalaias.

Anseiam apenas livrar-se das malhas

que os passarinheiros tramam

entre o ser e o céu

— dissimulado véu a que chamam

ordem, hierarquia, segurança.

 

Acaso pode a alma obedecer

a qualquer ordem que não

a de buscar, incansável, o que almeja?

A que hierarquia pertencer

senão às imperiosas inclinações do ser?

No seu próprio fluir, na realização plena,

no gozar em liberdade

uma existência justa e serena

— aí está sua inteira segurança.

O mais são palavras de demente

que joga com palavras, perigosamente,

por não lhes conhecer o sentido.

Sozinhos entre retortas e serpentinas,

os cientistas do medo

ensaiam mutações inconsistentes;

e de seus cérebros doentes

saltam entidades tortas, arcabouços

de futuras ruínas.

Esquecem-se de que o homem,

criatura alada, não pode ter como horizonte

uma sociedade por quotas, limitada.

E ao anseio de crescimento, à busca

de liberdade, respondem

os arquitetos do pesadume

com a máquina do medo.

Ameaçam, enclausuram, apertam,

cortam, furam, despedaçam, massacram

o HOMEM, sob pretexto de salvar

outros homens. Mas os que se salvam,

nesse contexto, soam como sinos quebrados.

 

 

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