Vivadeus
(A Zecarlos Andrade e Chico Medeiros)
Deus é morto. Viva Deus.
Sangre Deus; que Deus se desfaça;
que ele renasça, se pode,
que Deus surja de onde se esconde.
Que ele estoure da História,
ou da Igreja, se ali esteja.
De Marx, se ali ele jaz,
de Freud, se é que pode.
Viva Deus, que deus renasça
disfarçado como possa,
sem mácula e sem jaça
ou poluído, ou sujo, ou isso.
Quebre-se Deus, que ele se parta
qual os cristais da portas
fechadas, sempre fechadas;
abra-as Deus, alvo e meta.
Possa Deus até ser calvo,
não seja belo nem branco
seja ele a linha reta
que em nossas mãos entortamos
seja Deus ensanguentado,
feminino, semeado,
púbere, fértil, materno,
abeterno, eterno, interno.
Deus é morto. Adeus. A vinda
nova de Deus é saudada,
a vinda de Deus será linda
com a lindeza da Liberdade,
a contralindeza da saudade,
a antilindeza da nostalgia,
a safadeza da alegria;
e todos os adeuses a todos os deuses
da tortura e da tirania.