VISÃO DE UM PRISIONEIRO
Na espera, sem esperança
Do julgamento que vou enfrentar
Onde a condenação é tão certa
Como o amanhã que vai raiar,
Resta-me a infinita esperança
De que um dia a liberdade me sorrirá.
É por essa liberdade que espero,
Mesmo sabendo que antes dela
Muitas e muitas outras derrotas
No meu caminho vou encontrar
Mesmo assim não perco a esperança
De que cedo ou tarde, ela me abraçará.
Aí então vou poder
Desta masmorra me arrancar
Em busca da tão ansiada liberdade
E de duas rosas que viviam
Para meu jardim enfeitar.
Uma cheia de vida
Com seu perfume singular
A outra cheia de esperança
Demonstrando que a vida vai continuar.
Para essas duas flores tão cálidas
Levarei um mundo de recordações
De experiência, de vida muito dura
Ao lado de muita ternura e emoção,
De mil saudades acumuladas
Em vários anos de reclusão.
São Paulo, 23/04/73