VIOLA
(PPSP, dezembro Viola de todo silêncio,
de 1975) que canto aprisionas
nas cordas do mastro?
Sobre xilogravura de Que mares libertas?
Artur Scavone. Que sal de cantigas
semeias, subterrânea?
Corda de viola:
canto possível,
silenciado.
Vela veleiro, viola,
mastro, velame,
braço aberto
em metal vermelho,
intenso metal
desesperado.
Viola-veleiro,
nave noturna,
ave sem verso,
a vento de mãos humanas
arranque das cordas
um canto de facas feridas.
Comentário do pesquisador
Pedro Tierra é pseudônimo de Hamilton Pereira da Silva. A segunda edição de “Poemas do povo da noite” (São Paulo, Fundação Perseu Abramo e Publisher Brasil, 2009) inclui o livro “Água de rebelião”, publicado originalmente em 1983. No texto introdutório da edição de 2009, intitulado “Explicação necessária”, Pedro Tierra (Hamilton Pereira da Silva) informa: “Os poemas aqui reunidos foram escritos durante os cinco anos de prisão – de 1972 a 1977 – e publicados em volumes separados: Poemas do povo da noite (Ed. Livramento, S. Paulo, 1979), Água de Rebelião (Ed. Vozes, Petrópolis, 1983)” (2009, p. 19). Após a reprodução de ilustrações de Cerezo Barredo Dial, que constam na primeira edição do livro, a segunda edição apresenta uma dedicatória: “Estes poemas permanecerão ardendo para guardar a memória de Maria Augusta Thomaz e Márcio Beck Machado, assassinados pelos carrascos da ditadura enquanto dormiam”. Logo a seguir, há uma explicação: “Estes poemas tratam de homens reais, de torturas reais, de assassinatos reais ainda impunes” (TIERRA, 2009, p. 169).