Uma noite com minha amada
como nenhuma das mil noites do cárcere.
Ela dormia, eu velava e sentia
sua presença enchendo o vazio.
Amanheceu e acordei: sozinho!
Corri ao portão, bradei às grades:
onde está a minha amada?
Partiu – responderam os guardas atônitos.
Na cela, dentro de mim
Partiu! Partiu! – ecoando.
O silêncio voltou cheio de saudades,
saudades de minha amada.
Comentário do pesquisador
O poema “Uma noite com minha amada” integra o volume “Poemas (quebrados) do cárcere”, publicado por Gilney Amorim Viana em 2011. Na “apresentação do autor”, o poeta afirma: “Estes raros e quebrados poemas foram escritos na década passada, quando estive encarcerado pela ditadura militar. Acredito que refletem minhas afetividades, dúvidas existenciais, certezas políticas e ideológicas vividas naquele período” (2011, p. 9). Sobre a segunda parte do livro, na qual está inserido “Uma noite com minha amada”, Gilney Viana informa: “Já os poemas seguintes foram escritos na Penitenciária Regional de Juiz de Fora, situada no bairro de Linhares, onde estive preso durante o período de 1970 a 1977. A conjuntura estava marcada pela ofensiva da ditadura militar contra todas as forças de oposição, armadas e não armadas, inclusive nos cárceres políticos controlados pelos militares dos serviços de informação, como a Penitenciária de Linhares. Para nós, presos políticos, só existia uma alternativa: a resistência física, psicológica, ideológica e política e, porque não dizer, também poética” (2011, p. 9).