UM VELHO COMBATENTE
Ao "vovô", assassinado em julho de 1971,
no Rio
A luta lhe ensinou o andar agreste,
a conversa curta, ao jeito dos peregrinos.
A vida lhe deu o olhar atento,
o gesto pronto, à maneira dos fugitivos.
O rosto assume um feitio de pedra
nos dias de tortura.
Ganha um estranho brilho quando retorna.
Nenhum carrasco lhe conheceu a entoação do grito.
Hoje, curamos-lhe as feridas.
Guarda no corpo antigas cicatrizes.
A planta dos pés lembra mais
um campo arado há muito tempo...
Esse homem não se rendeu.
Manteve, mesmo depois da morte,
aquele brilho impreciso
que antecede a manhã.
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Comentário do pesquisador
Pedro Tierra é pseudônimo de Hamilton Pereira da Silva. O poema "Um velho combatente" integra a seção “Poemas do Calabouço”. A segunda edição de "Poemas do povo da noite" (coeditada pela Fundação Perseu Abramo e pela Publisher Brasil, em 2009) apresenta um texto introdutório intitulado “Explicação necessária”. Nessa introdução, Pedro Tierra (Hamilton Pereira da Silva) informa: “Os poemas aqui reunidos foram escritos durante os cinco anos de prisão – de 1972 a 1977 – e publicados em volumes separados: Poemas do povo da noite (Ed. Livramento, S. Paulo, 1979), Água de Rebelião (Ed. Vozes, Petrópolis, 1983)” (2009, p. 19). A edição de 2009, que reproduz “Um velho combatente” na página 37, informa que esse poema foi escrito em 1974. Além disso, a reedição explicita o nome do "vovô" a quem o poema é dedicado: trata-se de Paulo de Tarso Celestino.