Um poeta no desterro

Maciel de Aguiar

UM POETA NO DESTERRO

 

 

À memória de Tomás Antônio Gonzaga

 

Poeta que cantou a lira

debaixo da janela

de sua Marília eterna,

arrancando do coração

todos os acordes vocais

em versos de inspiração

dos amores imortais.

Poeta que cantou a vida

como um menestrel infante,

passando por sobre as pontes

dos caminhos das Gerais

dos passos de Tiradentes,

imortalizando a rebeldia

no grito dos inconfidentes.

Poeta que cantou a dor

do infortúnio das paixões

pelas marias dorotéias

que se espalham pelo mundo,

criando em nós um dirceu

que chora pelos quatro cantos

o seu amor que morreu.

Poeta que cantou a noite

dedicada às canções

para os que bebem na fonte

dos amores transtornados,

resistindo até hoje

nos corações febris

dos casais enamorados.

Poeta que no breu do tempo

conspirou contra o governo

do vice-reinado português

que impingia a cobrança

de impostos atrasados,

foi por um dos companheiros

traído e denunciado.

[Poeta ouvidor do povo,

dos reclames pelas ruas,

nas esquinas,

nas senzalas,

nos sobrados de antanho,

saciando a vontade

singular daquela gente

que queria se libertar.

Poeta que não temeu

a voz dos dominadores,

mesmo com a devassa

do movimento fracassado

gritou frente os soldados

que o amor e a Liberdade

não podem viver separados.

Poeta mandado embora

com sua verve proscrita,

que emudeceu quando soube

do companheiro esquartejado,

e para sempre ficou

no longe de Moçambique,

onde morreu desterrado.

Ah!... Poeta,

que o seu martírio

esquecido pelos anos

como um crime cometido

por um coração febril

traga dos séculos para nós

que procuramos nossa marília

e enfrentamos o algoz.

Oh!... Poeta eternizado

pela lição do amor,

estenda sobre nós

a proteção de sua lira

como uma eterna saudade

que hoje nos inspira

a cantar a Liberdade.

 

São Mateus-ES, 9.6.68

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