TRÊS LAMENTOS

Paulo Henriques Britto

TRÊS LAMENTOS

 

 

 

 

 

   I

 

Inevitável essa noite

como a dor surda que segue

o inesperado do golpe.

 

Inevitável a lembrança

que a noite arrasta consigo

no mesmo saco que o escuro,

a insônia, o tédio, as estrelas

e os outros trastes do ofício.

 

Inevitável esse espaço

que já não guarda mais nada

do que a memória gravou

com marca de ferro em brasa,

do que cravou na memória

como só um corpo se crava.

 

   II

 

Love — a kind of burrowing insect,

loathsome but colorful, lethal but rather nice —

love dug a sort of tunnel in my chest,

bored deep into my bones, consumed the marrow

and drank my slipslop blood,

and ate his way through flesh and skin

and came out on the opposite side,

then reveled in the fresh air for a moment

and waved his sharp antennae in the air,

then unfolded his wings and flew on.

 

   III

 

Nada nas mãos nem na cabeça, nada

no estômago além da sensação vazia

de haver ultrapassado toda sensação.

 

É em estados assim que se descobre a verdade,

que se cometem os grandes crimes, os gestos

mais sublimes, ou então não se faz nada.

 

É como as cobras. As mais silenciosas,

de corpo mais esguio, de cor esmaecida,

destilam o veneno mais perfeito.

 

Assim também os poemas. Os mais contidos

e lisos, os que menos coisa dizem,

destilam o veneno mais perfeito.

 

 

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Bolsistas de pós-doutorado (CNPq)

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Ana Clara Magalhães (UnB)

Cleidson Frisso Braz (Doutorando UFES)

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