TESTEMUNHO APÓS AS GRADES
A Rui Alencar (PE), bancário, sindicalista,
e preso político durante a ditadura de 1964
Aquele que tem a cicatriz
deve tratar
de tirania e treva
juntando contas
ao contar da história.
Sem ares de
vedete
professor
herói
principalmente
se herói não foi.
Apenas
cuidadoso depoente
sobre um tempo
em arquivo de ausências.
Deixando ao depois
o próprio umbigo
falar das flores
frutos
de uma plantação
ainda na semente
e do mal geral
gerado pela não-colheita.
É necessário esclarecer
que a tirania não surgiu
da pura decisão
de homens fardados
pois o tacão
está sempre a serviço
do $ifrão.
Ao evocar
mártires
heróis
supliciados
perseguidos
lembrar
dos seus jeitos de rir.
Convém deixar precisos
os graus de execução e mando
na força bruta estruturada
sem exagerar
os crimes do inimigo
as dores dos amigos
por ser sempre a verdade
a melhor medida
na guerra e no pós-guerra.
E chega a hora de expor
a própria dor na caminhada
peito aberto
sem temor da lágrima
pois afinal
o depoente é um ser igual
de sonho e sangue.
Ao fim do testemunho
erguer um brinde
ao século e às lutas
e à noite
quando a lua mais escura
com letras de esperança em laser
"HISTÓRIA E VERDADE"
inscrever nas nuvens da cidade