Testamento
Setembro vem chegando e então sementes
de há muito no ar lançadas entreabrindo
em flores vai de que não sabe os frutos.
Que fazer de tão crua primavera?
Lavra, plantio e regadura findos,
a sorte está semeada. E, se estas flores
são amargas demais, quem sabe os frutos…?
feias demais, e fétidas, quem sabe…?
Setembro já chegou, já vai em meio.
As flores a sugar profundas seivas
vão-se abrindo apressadas, mal esperam
a oportuna sazão que as frutifique.
Suaves pomos se antecipam numas.
Não colhamos tais flores, não tolhamos
nós, taciturnos brutos morituros,
ao sol vindouro os prometidos frutos.
São nossas estas, tristes. Arranquemo-las
antes que passe esta estação. (Setembro
já se vai — estação também das podas,
amaríssimas podas.) Arrancar-nos,
se pétalas, pois negras. Ramos. Caules.
Adubar-nos raízes prescientes
dos que nunca veremos polpa e fruto
neste chão de Babel. Porque futuros.
Setembro finda, crua primavera
as flores vai abrindo. (Ainda há flores!
e são brancas algumas!) Flores lívidas
do medo! — tal não seja nossa herança.