Testamento

Anderson Braga Horta

Testamento

 

 

 

Setembro vem chegando e então sementes

de há muito no ar lançadas entreabrindo

em flores vai de que não sabe os frutos.

Que fazer de tão crua primavera?

Lavra, plantio e regadura findos,

a sorte está semeada. E, se estas flores

são amargas demais, quem sabe os frutos?

feias demais, e fétidas, quem sabe?

Setembro já chegou, já vai em meio.

As flores a sugar profundas seivas

vão-se abrindo apressadas, mal esperam

a oportuna sazão que as frutifique.

Suaves pomos se antecipam numas.

Não colhamos tais flores, não tolhamos

nós, taciturnos brutos morituros,

ao sol vindouro os prometidos frutos.

São nossas estas, tristes. Arranquemo-las

antes que passe esta estação. (Setembro

já se vai — estação também das podas,

amaríssimas podas.) Arrancar-nos,

se pétalas, pois negras. Ramos. Caules.

Adubar-nos raízes prescientes

dos que nunca veremos polpa e fruto

neste chão de Babel. Porque futuros.

Setembro finda, crua primavera

as flores vai abrindo. (Ainda há flores!

e são brancas algumas!) Flores lívidas

do medo! — tal não seja nossa herança.

 

 

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— Colofão

Coordenação

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Nelson Martinelli Filho (IFES/UFES/CNPq)

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Valéria Goldner Anchesqui

Bolsistas de pós-doutorado (CNPq)

Camila Hespanhol Peruchi

Rafael Fava Belúzio

Pesquisadores/as vinculados/as

Abílio Pacheco de Souza (UNIFESSPA)

Ana Clara Magalhães (UnB)

Cleidson Frisso Braz (Doutorando UFES)

Cristiano Augusto da Silva (UESC)

Diana Junkes (UFSCar)

Fabíola Padilha (UFES)

Francielle Villaça (Mestranda UFES)

Henrique Marques Samyn (UERJ)

Marcelo Paiva de Souza (UFPR/CNPq)

Mariane Tavares (Pós-doutoranda UFES)

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Susana Souto Silva (UFAL)

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