Tempo de decisões
Este é um tempo de decisões
O canto certo
tem que ser direto
e atingir como uma bala de fuzil
A palavra deve ser uma arma
sem requintes inúteis
de funções evidentes
claramente parcial
e partidária
para ser contundente
e ser na História
O simbolismo
que fala em flor
para dizer amor
numa época em que
os jardins fenecem sem sol
sem luz
entre colmeias de pedra
quando os parques públicos
advertem
em placas sem poesia
que "É proibido tocar nas flores"
e uma rosa
sai tão cara
que eu não conheço ninguém
que tenha comprado uma
(exceto meu pai
uma vez...
no dia das mães...
era de plástico e tão fria)
é o simbolismo pragmático
dos comerciantes de flores
(cultivadas cientificamente
longe do calor das mãos humanas)
Hoje é preciso ser claro
e ser marco
como a Aurora Boreal
E se o meu canto é o
canto do povo
eu quero ser claro
As meias palavras
são o último recurso
da falida mitologia burguesa.
O povo é direto
como golpe de um martelo
o voo de uma foice
Não perdoo a obscuridade
o canto farisaico
que agrada a todo mundo
sem arregimentar ninguém
Não perdoo a fala de
labirintos
que o povo não consegue
e "nem deve" compreender
Não perdoo a alegre voz
das sereias
que arrasta os incautos
para afogá-los
nas traiçoeiras águas azuis
dos oceanos metafísicos.
Comentário do pesquisador
Poema originalmente sem título, porém intitulado pelo organizador da obra.