TARDE DE AUTÓGRAFOS NO MAM E VIAGEM A SÃO PAULO
No Museu de Arte Moderna
(Depois de uma entrevista à imprensa
Em casa de Rubem Braga)
Autografamos juntos nossos poemas.
Dia seguinte, em São Paulo
Para onde partimos de trem
E nos hospedamos no Ca'd'Oro
Inauguraste a estátua
De Flávio de Carvalho
Em homenagem a Lorca
E que pouco mais tarde
Amanheceu no chão desmantelada
Pelos homens do Ódio.
Comentário do pesquisador
O texto faz parte de um livro inteiramente dedicado a Pablo Neruda, escrito logo após a morte do escritor chileno, figurado também como interlocutor do poema em questão. O episódio aludido no poema faz referência ao lançamento do Monumento a Federico Garcia Lorca, em 1968, que contou com a presença de Vinícius e Neruda. Conforme matéria de Cadão Volpato, na revista Piauí, edição 6 (março de 2007): "Dois meses depois da inauguração, a ditadura baixou o Ato Institucional nº 5. Em julho de 1969, um grupo paramilitar, o Comando de Caça aos Comunistas, CCC, atacou e destruiu a obra da Praça das Guianas. A escultura foi derrubada e transformada em sucata. Seus restos foram parar num depósito da prefeitura. Em 1971, o próprio Flávio de Carvalho restaurou a escultura. Convenceu a prefeitura a instalá-la ao lado do prédio da Bienal, no Ibirapuera. O embaixador da Espanha, franquista fanático, protestou contra a presença da 'escultura do comunista'. O prefeito (nomeado) José Carlos de Figueiredo Ferraz recolheu-a novamente ao depósito. Lá ela ficou, esquecida, até o final dos anos 70. Aí começou a nova vida, cheia de aventuras, da escultura. Um bando de garotos roubou a obra de Flávio de Carvalho". A reportagem passa, então, a detalhar a ação do grupo de jovens idealistas que roubaram a estátua e o périplo da obra até retornar a Praça das Guianas, em 1979, onde ainda se encontra atualmente.