Sobre partidas

Alex Polari

SOBRE PARTIDAS

 

Aprendi desde cedo

a não sofrer com partidas.

Cansei de abraçar companheiros

que no outro dia morreram

cansei de esperar por eles

com um até amanhã

que até hoje persigo nos sonhos.

 

Aprendi desde cedo

a não sofrer com partidas.

Daí substituir o medo

de perder tantas pessoas queridas

pelo rosto impassível

que exigiam de mim.

Daí porque todos os sentimentos

que tínhamos uns pelos outros

era tácito

daí porque todo o carinho

que fazíamos uns nos outros

era rápido.

 

Aprendi desde cedo

a não sofrer com partidas.

Acostumei a dar por falta deles

nos encontros não realizados

costumei em noites chuvosas

confirmar prisão ou morte

nos pontos de segurança

com o coração batendo desesperado

e a arma engatilhada sobre o casaco.

 

Aprendi a esperar os cinco minutos regulamentares

mas aprendi também a infringir as normas de segurança

aguardando mais cinco minutos louco de esperança e liberalismo.

 

Aprendi também a sair cabisbaixo pela chuva

e a fingir momentos após com os outros

com a mais absoluta frieza.

 

Por isso as partidas não me assustam.

Aqui dentro tão pouco vingou o desejo

de que os sentimentos fossem mais definitivos:

Transferências de prisão

companheiros soltos

companheiros mortos

companheiros loucos

reafirmam a transitoriedade de tudo.

 

Daí porque aprendi desde cedo

a não sofrer com as partidas.

É que eu sou um combatente provisório

de uma causa quase eterna no homem

acredito ter como bandeira

senão o sonho perfeito,

a melhor utopia possível.

É que eu sou um homem provisório

de expectativas provisórias

de moral provisória

e uns poucos valores absolutos.

É que sendo um homem provisório

de uma causa provisória

eu devo me acostumar às partidas

pois eu sou fraco, forte é nossa causa

que causa tantas partidas.

 

Por isso as partidas não me assustam.

Com elas moldo a substância do meu canto.

Nenhuma pessoa amada deve se preocupar comigo:

posso viver perfeitamente mesmo com tantas partidas,

algumas ganhas, a maioria perdida.

Pássaro migrante, saio daqui um dia

voando com um trabuco

prá qualquer lugar onde a voz do homem for fraca.

 

 

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