Para R.
Pulsam os corpos:
plantas de sangue
sufocadas no chão
sem sol, soluça
sem som a seiva
latejam as setas
do amor na terra
da carne amarga.
Costuradas celas
de pele e de pedra
prisão de treva
trançada, travo.
A mordaça amarra
o beijo à beira
da boca um trevo
se tece e morre.
Comentário do pesquisador
O poema revela questões ocorridas "na terra / da carne amarga", localizando (e amplificando, via metáfora) os problemas enfrentados. Nesse ambiente relativamente indeterminado e tecido nos Anos de Chumbo, o eu lírico menciona "plantas de sangue", "Costuradas celas / de pele e de pedra / prisão de treva", de modo que o corpo e a prisão seguem sobrepostos, como se vê em outros textos do livro "Marca registrada", desde o poema de abertura. Diante de uma realidade em que não se poderia dizer tão claramente sobre as prisões e violências, o poeta opta por trazer para o corpo e para os jogos de sonoros (note o uso de consoantes oclusivas no poema) as dores sentidas, de alguma forma tornando logopaica e melopaica a realidade dolorosa dos Anos de Chumbo. Não por acaso o poema se chama "Sensorial": há na violência das batidas das palavras a imitação acústica da violência da época propriamente dita.