Sem título (4)
Metaforagir-se em vocúbulos
Metoniminizar-se em hiatos
Anacolutorcer-se em parágrafos
Zeugmarchar na terra
Pronomentir e achar tudo
Uma onomautopia de sonhos
Eufemismorar em cidades capóstrofes
Mundiais tironias nacionais
Pleonasmorrer de tédio polissindetonar-se
Em revoloções consultar as
Condições atmosfeéricas a fim
De no bar da esquina babar
Silepse-cola e ouvir um
Hiperbolero para não antítesesperar
Comentário do pesquisador
O poema lembra um pouco o "metaléxico" de José Paulo Paes. E assim como Paes, produz vocábulos que dialogam com o seu contexto político: "Metaforagir-se" em uma época em que há muitos foragidos políticos; "Metoniminizar-se em hiatos" quando há diversos desaparecimentos, assassinatos e pessoas se tornando clandestinas. Além disso, o poeta menciona as "tironias nacionais" durante o governo tirânico dos militares, bem como uma "onomautopia de sonhos", ironicamente desejando a superação dos problemas contextuais. Assim, o poema discute, por meio de neologismos e versos cheios de estranhamento, o incômodo diante dos Anos de Chumbo.