O sangue, Pedro, ergueu a Igreja.
O mesmo sangue que sustenta o papa
ardeu nas bruxas na Santa Fogueira,
foi pisoteado nas Santas Cruzadas,
censurado na carne dos santos.
Entre tijolos sangue foi a massa.
Vazou dos vitrais — cor luminosa.
Nas ferragens coagulou em solda.
Mas vai rachando, você vê, e o tempo
enferrujou a luz em ângulos opacos.
(Não fosse o tempo com seus ventos,
quem tem nariz podia ir a Roma
seguindo o cheiro de cristãos queimados.)
Catedrais não são catacumbas nem arenas.
Se valeu a pena ou se foi sangue em vão,
não sei, Pedro. Para uma resposta
me sobram séculos, faltam leões.
Não entendo de mártires, não estudo morte.
Vivo com gente, não trabalho com santos.
O povo, Pedro, é a pedra dos novos tempos
e o povo não morre.