"ROSA"
Andaremos sem roteiros
uma cidade armada.
Se as mãos se tocarem
não fujas, enlaçados
não guardem teus dedos,
ao fim da tarde,
apenas o frio
ferro das granadas.
Se vier o cansaço,
não resistas, repousa
no meu ombro
a cabeça fatigada,
e o gesto de carinho
banhe teus olhos
na fugitiva luz
de meteoros no mar.
Mas se a fadiga trouxer
consigo alguma dúvida,
abre teus olhos infinitos
e repara em volta
a cidade ferida.
Ouve na sombra
o surdo labor da semente
largada no chão da rua.
Chega na boca do povo
um silêncio de planta
absorta, a desatar sua flor
enfim liberta...
(74)
Comentário do pesquisador
Pedro Tierra é pseudônimo de Hamilton Pereira da Silva. O poema "Rosa" integra a seção “Poemas da companheira”, parte do volume “Poemas do povo da noite”. Na segunda edição desse livro (coeditada pela Fundação Perseu Abramo e pela Publisher Brasil, em 2009), há um texto introdutório, intitulado “Explicação necessária”, em que Pedro Tierra (Hamilton Pereira da Silva) informa: “Os poemas aqui reunidos foram escritos durante os cinco anos de prisão – de 1972 a 1977 – e publicados em volumes separados: Poemas do povo da noite (Ed. Livramento, S. Paulo, 1979), Água de Rebelião (Ed. Vozes, Petrópolis, 1983)” (2009, p. 19). A edição de 2009, que reproduz “Rosa” na página 82, informa que esse poema foi escrito em 1974.