Rei nu
O Rei atravessou nu as
ruas de Praga.
Aboletou-se
—— pomposo e ridículo ——
na Praça de São Wenceslau.
Fiéis vassalos
comentaram os preciosos detalhes
das vestes reais.
Trombetas
aos céus
flores ao Monarca
e lindas histórias
para embalar todo um povo.
Inútil!
Inútil a pompa
a pose ridícula
Inúteis as flores
e honrarias arranjadas
as grandes mentiras
nuas como o rei!
Uma boa comédia
de fim de tarde
a que o povo assistiria
até rebentar de rir.
Como eu riria...
Não fosse o sangue nas ruas
não fossem as correntes de aço
esmagando corpos de irmãos.
Corre, pequeno Yachnov,
esconde-te sob meu casaco.
Corremos até os verdes prados
Preciso respirar fundo
o ar puro
enterrar as ilusões derradeiras
guardar no pequeno
galpão dos fundos o arado
a enxada
a foice
e o saco das sementes
—— descansa-te, que ainda
as semearemos.
Precisamos azeitar
a velha carabina
—— e rápido
que os camaradas já seguem
para as montanhas.
Tomaremos o lugar das águias!
Exortaremos
canções de guerra
como outrora
e tu verás que grandes
camaradas nós temos.
Lembra-te de Zuthev, Wizerck, Sugary?
Já foram heróis uma vez
—— serão de novo ——
E muitos novos heróis
surgirão
Tu também, pequeno Yachnov,
aprenderás a escalar montanhas
na escuridão,
a viver de sorrisos e lembranças
à beira do fogo,
entre camaradas,
aprenderás o manejo das armas
terás certeza na vitória
e darás certeza a teu povo.
Meu pequeno Yachnov
já estou envelhecido
e talvez não venha a ajudar-te
na próxima semeadura...
Sê forte. Não desfalece com a minha morte.
Enterra-me com a roupa do corpo,
leva minhas botas
que ainda te serão úteis
e cuida bem desta velha arma,
azeita-a de quando em quando,
e conserva-a sempre limpa.
Até lá tenho muito a ensinar-te
e mais ainda aprenderás com os outros.
Vamos! Rápido!
A Carabina —— EIA! Segura!
Comentário do pesquisador
Poema originalmente sem título, porém intitulado pelo organizador da obra.