REFLUIR...
Ao companheiro Iuri Xavier Pereira, assassinado
em junho de 1972 em São Paulo
A essa hora restam poucos amigos.
A casa está em cinzas, os irmãos mortos,
o inimigo armado na esquina.
Um grito agora se perderia na poeira,
no sono da rua desabitada.
Guarda-o, pois, até a madrugada,
reúne tuas forças em silêncio,
engraxa, cuidadoso, tuas armas,
confere a munição contada e espera ...
Vigia na sombra o vulto do inimigo,
mas, sobretudo, ouve o despertar do povo,
percebe nos dedos a bruma a desatar
promessas de rebeldia.
Eis aí a tua hora:
levanta barricadas
e entrega ao povo os fuzis
dos camaradas mortos!
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Comentário do pesquisador
Pedro Tierra é pseudônimo de Hamilton Pereira da Silva. O poema "Refluir..." integra a seção “A hora do inimigo”, parte do volume “Poemas do povo da noite”. Na segunda edição desse livro (coeditada pela Fundação Perseu Abramo e pela Publisher Brasil, em 2009), há um texto introdutório intitulado “Explicação necessária”. Nessa introdução, Pedro Tierra (Hamilton Pereira da Silva) informa: “Os poemas aqui reunidos foram escritos durante os cinco anos de prisão – de 1972 a 1977 – e publicados em volumes separados: Poemas do povo da noite (Ed. Livramento, S. Paulo, 1979), Água de Rebelião (Ed. Vozes, Petrópolis, 1983)” (2009, p. 19). A edição de 2009, que reproduz “Refluir...” na página 65, informa que esse poema foi escrito em 1974.