(e próximo ao nascimento de meu filho)
Filho,
você vai pintar filho também desse continente
entre cercas e silêncios
onde só descobri violeta tarde demais
quando todas as flores da cordilheira
jaziam sob as botas.
Nesse solo continental
lixo umbanda baioneta
num quarto asséptico de hospital
você dará com a bunda
ou com a cara
numa sala de azulejos...
Sinceramente serei feliz
mais por você do que pelas coisas
que nos cercam.
É isso que penso agora na privada
de onde tenho que sair rápido:
Aqui somos trinta companheiros, filho,
e apenas um banheiro.
Mas talvez dê tudo certo.
Sobre esse solo, você há de pintar,
não tem jeito.
Enquanto isso os generais de merda
continuam dando seus golpes de merda,
a mediocridade campeia.
Filho, estou reaprendendo a usar os intestinos
após longo recesso
breve você fará o mesmo.
No vaso indago sobre você
conjunturas, estados de direito, primaveras,
política e culinária.
Filho, detesto a mediocridade
mas infelizmente sou obrigado a levar em consideração
os medíocres possuidores de tanques e exércitos
que tiram uma meleca
e isso pode ser a senha
para disparar todos os foguetes
e nos fazer em pedacinhos.
Lá fora, onde você vai nascer,
eles conspiram.
Por enquanto, eu dou descarga.
Comentário do pesquisador
O poema refere-se à Greve de Fome realizada pelos encarcerados, entre eles Alex Polari. A greve durou 32 dias. O motivo era a quebra de isolamento dos companheiros condenados à prisão perpétua em Recife.