Recordações de 1969 - II
(A Nova Av. Atlântica)
Eu namorava
a quase puta
divina de meus sonhos
numa duna
da avenida.
Em frente a Santa Clara
o manto escuro do mar
nos encobria.
Escondidos pela areia
meus irmãos da praia
copulavam meretrizes,
casais inocentes tremiam
com medo da polícia
nenhuma diretriz comum nos unia
mas no orgasmo nos igualávamos:
Cafetões
prostitutas
marinheiros
viados
adolescentes
e militantes no descumprimento das normas de segurança
todos gemiam
do Leme ao Posto 6.
Eu esperava
que ela tirasse a navalha
da liga e me matasse
ou que algum cretino de um edifício
iluminasse minha foda.
A draga vinda da Inglaterra
furava a névoa
as luzes sorriam na rebentação
e tudo parecia uma marinha de Turner.