Raptos, Reptos & Transas

Alex Polari

Raptos, Reptos & Transas

(O Prometeu da Frei Caneca será preterido pelo Apolo da Montenegro?)

 

Ela então me disse

não tenho a menor chance

de concorrer com seus amantes.

E mais:

que muito melhor que cruzar

essas grades de dia

é deitar com alguém

de corpinho mais perfeito

numa noite isenta de sirenes

repletas de encantos e incensos.

 

Infelizmente para meu amor-próprio

eu concordo

e de garganta ressecada

sepulto o mito

que meu prazer

tenha a força de uma sentença absolvitória

para tudo.

 

Visto então o pijama zebrado da angústia

prisioneiro de mim mesmo

permaneço em sentido

-ombro armas

enquanto as salvas de canhão

saúdam as exéquias de um amor

e os fantasmas vestidos de verde-oliva.

 

Como concorrer com a noite

o nascimento do sol

com a possibilidade de todas as paisagens

com a opção de gozar em todas as praias e portos

alguns seguros,

outros perigosos?

 

Só sou responsável pelo que sinto

só posso oferecer além de mim

a passagem por pátios ensebados

as visitas que fazem fofocas sobre minhas aventuras amorosas

os guardas que fungam a mamadeira do meu filho

os intrusos que batem em minha cela

e empatam minhas fodas.

Eu, pobre amante encarcerado

não tenho nenhum manto

e apenas o pau como centro.

Reinarei na sua emoção

apenas o tempo que for permitido,

antes que as solicitações da vida sejam mais fortes.

 

A brevidade é para mim

uma longa experiência

aprendida na dor de cada corpo

efêmero que parte.

Nunca canto vitória

porque a ninguém possuo

sou eterno apenas no momento

que dentro de você tremo de medo

ante a perspectiva do retorno.

 

Meu corpo não tem areia, sal,

reflexo de néon

burburinho de bar

liberdade de procura,

meu corpo é apenas ele mesmo

caminhando de um lado para outro da cela

sem qualquer moldura

que o valorize além do que ele é.

 

Flor resistente

entre um bouquet de vidas ceifadas

não me arrependo de ter gasto a juventude

em causas tão mal compreendidas

e sonhos tão ardentemente desejados.

Devo pagar em cada paixão

impedida pelas grades

o preço de minha loucura

e deixar para quem viveu em paz

a relativa mediocridade

a coroa de louros feitas das chepas de meus amores.

 

Afinal toda cidade e suas delícias

conspiram contra mim.

reles habitante do inferno cinzento

entre tantos outros menos votados.

 

E quanto a você

ex-musa descarnada de pedras,

entenda que desejo sua felicidade

mesmo às sextas-feiras,

para isso existe a desfaçatez necessária

e o diafragma.

 

Impavidamente

traçarei no sábado

a parte que me cabe

e serei feliz.

 

Impedido de demolir grades

trucidar guardinhas

plantar jardins suspensos da Babilônia

em cada guarita

espero apenas que nosso óbito

se dê por morte natural

e nunca como consequência de um poder

que jamais deleguei a essas paredes.

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— Colofão

Coordenação

Marcelo Ferraz (UFG/CNPq)

Nelson Martinelli Filho (IFES/UFES/CNPq)

Wilberth Salgueiro (UFES/CNPq)

Bolsistas de apoio técnico (FAPES)

Juliana Celestino

Valéria Goldner Anchesqui

Bolsistas de pós-doutorado (CNPq)

Camila Hespanhol Peruchi

Rafael Fava Belúzio

Pesquisadores/as vinculados/as

Abílio Pacheco de Souza (UNIFESSPA)

Ana Clara Magalhães (UnB)

Cleidson Frisso Braz (Doutorando UFES)

Cristiano Augusto da Silva (UESC)

Diana Junkes (UFSCar)

Fabíola Padilha (UFES)

Francielle Villaça (Mestranda UFES)

Henrique Marques Samyn (UERJ)

Marcelo Paiva de Souza (UFPR/CNPq)

Mariane Tavares (Pós-doutoranda UFES)

Patrícia Marcondes de Barros (UEL)

Susana Souto Silva (UFAL)

Weverson Dadalto (IFES)

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