RADIAMOR N°I
com a imaginação crio
no meu radiamor
a tua figura
pelo meu transmissor
receptor converso com
a tua figura
e tudo quanto falas
não é mais que o con-
torno verbal da tua
figura
as coisas que dizes
me fazem ver pombos
brancos em torno da
tua figura
enquanto te escuto
faço de cada coisa
— ideograficamente —
uma figura
imagens
passam a ser objetos
do mundo em que (co-
mo numa gravura)
se situa
nítida a tua
figura
e falo com a tua fi-
gura
e com os objetos que
as imagens criaram
e que rodeiam a tua
figura
e amo a tua figura
como se tu mesma es-
tivesses presente
materialmente não
apenas figura
sinto o calor
do teu sangue
na tua respiração
vejo a tua
gesticulação na tua
figura
e tudo é teu corpo em
sexo em carne e ossso
na tua
figura
(a simples
imaginação do povo
não pintou a figura
de Circe
antes que o fizesse
a pintura?)
pousam-me no ombro
afinal
brancos os pombos
que rodeiam a tua
figura.