Propaganda eleitoral
O candidato funga.
Flácida e fofa
figura inflada
se inflama e fala:
feixe de frases
feitas, fraseado
falaz se forma
na furna da voz.
Na boca da urna
língua de trapo
tropeça na areia
da arenga: arena.
Ensebado embusteiro
balança o bestunto
besuntado, bestia
lógico lesa o povo:
no rádio o rugido
no cinema o aceno
no jornal o jargão
no comício o vício
no vídeo o vírus
da fraude invade
o veludo da voz
e envolve a fala.
Ramerrão reumático
ruminante — retrato
três por quatro na
televisão — deputado.
Comentário do pesquisador
O tema político se faz presente no texto desde o título. Nas primeiras estrofes, é tecida uma caricatura de candidato, reforçando, por meio da aliteração de /f/, as bobagens que o político fala, especialmente na segunda estrofe. A terceira estrofe, por sua vez, é emblemática ao marcar a existência de "boca de urna" ligada à "arena", sendo a boca de urna uma prática política ilegal e Arena a Aliança Renovadora Nacional, partido político criado durante os Anos de Chumbo com intenções de sustentar a Ditadura Militar.