PRONTO, EIS ME AQUI, BRUTO!
I
eis-me aqui, veja-me todo possível
aqui em corpo repleto de animal irritado
como sempre
inventando a beleza na violência
do propor o mudar.
aqui então em primitiva identidade
aqui guerrilheiro abstrato
e eis meus tijolos meus andaimes despencados
meus edifícios de palavras denunciadoras
aqui
todo homem
armado
II
e aqui, justamente aqui onde permaneço
jaz o limite de minha fúria,
no início de cada pulo interrompo
constelações de dúvidas emocionantes.
agora não me movo
ágil reflito
decido ficar
em nome do homem ajo
veloz o sorriso:
invento outro modo
subverto a palavra antiga
agrido
incomodo.
III
e aqui nesta cidade de encarnecidas bandeiras
enquanto as sombras se multiplicam a cada assassinato
mais uma vez clandestino sigo pelas avenidas embriagado
carregando no peito flor murmurosa na mente
mais um poema combatente
pelos largos onde florescem pés de dor
pelas ruas construídas de cruzes e agonias
pelas praças cercadas por arames e fuzis
pelos arrabaldes ornamentados a pau seco
pelos labirintos grilhetantes da metrópole
sigo, eu sigo temendo as serpentes que nadam bélicas
nas veias das sentinelas que nos vigiam
sobre os cadáveres dos anjos metralhados
— apesar da ferradura galopante e dos cravos
desfazendo espumas em narinas recalcitrantes
destruindo estátuas com as mãos de tigre
com bandeiras de cobre na garganta
marcado e preso por chuvas de promessas
ameaçado em todos os sentidos
mas eu sigo!
consciente de todos os perigos
sabendo dos limites da ousadia
sem instrumentos para o combate
sem cumprimentos renegando as lágrimas
sem gemidos lamentos ou gritos
sigo com mais uma frase que nada significa
eu sigo
BOM DIA
cantando
resistindo
TODO DIA
IV
e aqui só nesta toda pátria bem debaixo do sol
aqui mesmo inerme em compulsória solidão
presenciando o encarceramento de povos e árvores
tentando esquecer uma mulher mais bonita que a primavera
quisera na verdade soltar os latidos de meus mortos
distrair moléculas e curiangos limpar o lodo do cotidiano
pintar no muro do planalto uma rosa cor de sangue
desvendar o desterro que mutila o vento e a história
apagar os semáforos que policiam com seus olhos de crocodilos
os fugitivos na madrugada
e aqui só nesta toda pátria bem debaixo do sol
quisera contrair os relâmpagos da cordilheira
porém me sinto pequeno frágil para romper
o habitual silêncio, o gelo e o fogo transparentes...
por isto hoje mesmo agora
aqui debaixo deste sol verde
enquanto o dilúvio de caroços desce imenso
pela boca do homem sem asas que sem saber voa
me responsabilizo pelo total mormaço
me responsabilizo pela crescente inundação de fumaça
que encobre o corpo pustulado da terra fácil
V
e trago nas mãos densos desarranjados poemas
o peito fortalecido inatingível o coração excitante
os olhos vigilantes a vontade bastante
de abater a imperiosa ameaça não importando
armadilhas punhais ou exílios
acompanhado de pássaros que cantam a música dos perseverantes
e trago o coração fortalecido
o peito cru exercitante
o metal azul para rasgar a luz que denuncia
e incinera nossos insuperáveis
destroços