Profecia dos Lôbos
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A ROSA é um tigre de sangue
a aberta granada com pétalas de carne
um militar colhido no ar
pela ave de ferro
suas fardas de pólvora
o coração de vinagre
Olho as caveiras pintadas
dançando valsas velozes
na noite álgida;
e os vestidos velhos das valsas
desmaiam desmilinguidos
ao som do roxo vagido
dos violinos sem alma
Os sinos já não tocam
na cidade sem timbre
os relógios quebrados
deitaram môfo no tempo
O antigo tempo do jôgo
do velho jôgo dos forasteiros
Lôbos de fogo
ateando logros
à goela do povo
lambendo à noite
o ladrilho das estrêlas
furtadas ao brilho
de sua mais rara pedraria
Os lôbos saquearam
a lua grávida
em torpe emboscada
rasgaram seu ventre
de cadela aziaga
A lua magoada
desliza minguante
seu corpo dormente
ferido na bruma
Mal fartos da fome
em louca voragem
de fúria e ciúmes
os lôbos se comem
e se reincorporam
à terra e ao estrume