Comentário do pesquisador

A linguagem por vezes sutil do poema remete a questões como o crime perfeito, o crime deixado "fora de foco", uma vez que se "queima o filme" e tudo "vira vã estátua", deixando o próprio crime "sem assinatura". Considerando que o poema é de 1975, é razoável imaginar que esteja sendo abordada, ainda que metaforicamente, a anistia, o absurdo perdão dos crimes políticos cometidos durante os Anos de Chumbo. A Lei da Anistia, de fato, deixou os crimes fora de foco, não permitindo que a sociedade brasileira repensasse e julgasse os criminosos militares "depois dos disparos". Ademais, a edição do poema no livro "Máquina de escrever" traz uma problemática quebra dos versos entre páginas; no entanto, na edição de 1985, o poema é monoestrófico e assim está aqui disposto.