A vela quase extinta
velava seu sono
apaziguando anos
onde antes do golpe
tentei a paz
andina de um mesmo
cenário semelhante
a esse vale que se descortina
ante meus olhos.
Não faz mal, a neve cabe
aqui mesmo
a galope dentro da alma
agora que o sonho
é uma sensação tão branca
de interiores.
Acordarei aos primeiros acordes
de uma música
trazida pelo vento
e infiltrada
na copa dos pinheiros
já então ressuscitados
em meu tato e memória
O orvalho na relva
valerá o preço da paisagem
cada velha fantasia que for vivida
terá sentido
independente do fim
de nossa estória
cada almofada no chão
estará fadada a ser
uma plataforma de embarque
do prazer
provisório exílio desejado
entre filhos nutridos de leite de cabra
potes de geléia
achados no fim de cada arco-íris
e viagens ao redor dos cogumelos
em noites chuvosas intensamente percorridas
cada vez mais para dentro de nós mesmos.
Até descobrirmos sozinhos
nossa tribo e nossa pátria
sua extensão e seus limites
tudo será permitido.
inclusive naufragarmos
nos mitos
com nossas verdades.
Iniciaremos cada dia
com a alegria
de que algo que vivi todo esse tempo
nunca mais será o meu algoz
constante de todas as horas.
Porisso, em cada amor
feito solenemente
sem pressa nem sirene
gozaremos gozando a cara
do carrasco que pretendeu nos destruir
todo esse tempo
com as grades ora abolidas.
Então,
a cada novo dia
irei à varanda
abrirei a janela,
cumprimentarei os pássaros
com seus pullovers de penas coloridas
e com a precisão de um relojoeiro suíço
lentamente, sem me cansar nunca,
ajudarei a manhã
a abrir sua pálpebras
sonolentas.
Comentário do pesquisador
Poema que fecha o livro "Camarim de Prisioneiro".